Rubem Braga, escritor capixaba (1913 – 1990)

Infância e formação

Rubem Braga nasceu em 12 de janeiro de 1913, na cidade de Cachoeiro de Itapemirim, no Espírito Santo. Filho de um advogado e político local, foi criado em um ambiente de intensa vida cultural e política, o que influenciaria sua sensibilidade social e seu olhar crítico sobre o mundo. Ainda jovem, demonstrou interesse pela leitura e pela escrita, hábito que cultivou ao longo de toda a vida.

Nos anos 1920, o Brasil vivia um momento de transformação: o fim da Primeira República se aproximava, e os ideais modernistas começavam a se consolidar no campo literário. Nesse contexto, Braga cresceu testemunhando tensões políticas, sociais e culturais que moldariam seu olhar atento para o cotidiano — traço marcante de sua futura obra.

Ele iniciou seus estudos superiores em Direito na cidade de Niterói (RJ), mas logo se dedicou ao jornalismo e à literatura, áreas nas quais deixaria uma marca profunda.

Primeiros passos no jornalismo e na literatura (década de 1930)

Aos 18 anos, Rubem Braga começou a escrever para jornais locais e, em pouco tempo, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde se inseriu no ambiente efervescente da imprensa e da intelectualidade carioca. O país passava pela Revolução de 1930, com Getúlio Vargas assumindo o poder, e o jornalismo vivia um momento de forte politização.

Nessa década, Braga consolidou-se como cronista — um gênero ainda visto, à época, como menor em relação ao romance ou à poesia. No entanto, ele ajudaria a elevar a crônica a um patamar literário singular, transformando cenas simples do cotidiano em textos poéticos, irônicos e profundamente humanos.

Em 1936, publicou seu primeiro livro de crônicas, “O Conde e o Passarinho”, que já revelava o estilo lírico e a atenção aos detalhes da vida comum que se tornariam sua marca registrada.

A Segunda Guerra Mundial e o olhar crítico (década de 1940)

Durante a Segunda Guerra Mundial, Rubem Braga foi correspondente de guerra na Itália, acompanhando a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Essa experiência marcou profundamente sua visão de mundo. Se antes suas crônicas eram marcadas por lirismo e observação cotidiana, após a guerra passou a apresentar também um olhar mais crítico e melancólico.

Ao mesmo tempo, o Brasil vivia sob o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937–1945), um regime autoritário que controlava a imprensa e limitava as liberdades civis. Braga, sempre avesso a autoritarismos, manteve uma postura independente, com uma escrita que, embora muitas vezes sutil, trazia críticas sociais e políticas embutidas em pequenas histórias.

Consagração literária e maturidade (décadas de 1950 – 1970)

Após a guerra, Braga consolidou sua carreira no Rio de Janeiro. Trabalhou em diversos jornais importantes — entre eles Correio da Manhã, O Globo, Diário Carioca e Jornal do Brasil —, tornando-se uma das vozes mais reconhecidas da imprensa brasileira.

Nos anos 1950, o Brasil vivia um momento de otimismo com o governo de Juscelino Kubitschek e a construção de Brasília. A crônica, gênero que Rubem Braga ajudara a legitimar, tornou-se uma forma de registrar o cotidiano dessa modernização acelerada. Enquanto outros escritores se dedicavam ao romance urbano ou à poesia engajada, Braga mantinha-se fiel ao seu estilo: textos breves, delicados e observadores, que revelavam a beleza e a contradição da vida comum.

Entre suas obras mais conhecidas desse período estão: 
A Cidade e a Roça (1957)
100 Crônicas Escolhidas (1958)
Ai de Ti, Copacabana (1960)

Seu texto tornou-se referência para gerações de cronistas e jornalistas, como Fernando Sabino, Carlos Drummond de Andrade (que também escreveu crônicas), Paulo Mendes Campos e Luis Fernando Verissimo.

Últimos anos e legado (décadas de 1980 – 1990)

Na velhice, Rubem Braga continuou escrevendo, com a mesma simplicidade e profundidade. Sua crônica não envelheceu: continuou a tratar de temas atemporais como amor, saudade, amizade, natureza e política — sempre com um tom intimista, poético e direto.

Em 1969, foi nomeado adido cultural do Brasil em Marrocos, experiência que também inspirou algumas de suas crônicas. Em 1988, foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), embora sua consagração já estivesse firmada há muito tempo no coração dos leitores.

Rubem Braga faleceu no Rio de Janeiro em 19 de dezembro de 1990, aos 77 anos.

Estilo literário e importância histórica
Rubem Braga é considerado o maior cronista brasileiro. Sua escrita caracteriza-se por: 
linguagem coloquial e poética, que aproxima a literatura do leitor comum;
olhar atento para o cotidiano, transformando o banal em matéria literária;
tom intimista e reflexivo, que combina lirismo, ironia e crítica social;
resistência ao engajamento panfletário, preferindo a sutileza à retórica direta.

Sua obra se insere num Brasil que atravessou grandes transformações — da Revolução de 1930 ao regime militar, passando pela modernização urbana e pela consolidação da imprensa moderna. Em todas essas fases, Braga manteve um olhar próprio e singular sobre o país.

Principais obras:
O Conde e o Passarinho (1936) 
A Cidade e a Roça (1957)
100 Crônicas Escolhidas (1958)
Ai de Ti, Copacabana (1960)
Os Melhores Contos de Rubem Braga (1970)
Crônicas Inéditas (1988)

Rubem Braga deixou uma contribuição inestimável à literatura brasileira: ajudou a consolidar a crônica como gênero literário autônomo e respeitado, mostrando que a poesia pode habitar a vida de todos os dias. Seu olhar delicado sobre o mundo permanece atual, e seus textos seguem sendo lidos, estudados e admirados por novas gerações.

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